Atualmente existe uma variedade enorme de exames para avaliação renal, mostraremos aqui aqueles que são mais solicitados pelos médicos.
As informações deste texto têm como objetivo facilitar o entendimento dos exames de avaliação dos rins. Não deixe de procurar um médico se for detectada qualquer alteração em seus exames !
Creatinina
A creatinina é uma substância produzida pelos músculos do corpo e eliminada pelos rins. Por isso, quando ocorre uma diminuição na filtração dos rins, haverá um aumento dos níveis de creatinina no sangue.
Pelo fato da creatinina ser produzida nos músculos, seus níveis também são influenciados pela quantidade de massa muscular da pessoa. Indivíduos idosos ou muito magros tendem a ter uma creatinina mais baixa, por possuírem menor massa muscular.
Por outro lado, pessoas musculosas, como praticantes de halterofilismo, podem apresentar uma creatinina um pouco mais elevada sem, no entanto, apresentarem uma doença renal.
Resumindo, o exame de creatinina é usado como marcador de insuficiência renal, quanto maior seu valor, pior está o funcionamento dos rins.
Clearance de Creatinina
A partir da dosagem da creatinina no sangue e na urina de 24 horas, é realizado um cálculo matemático para se chegar ao valor do Clearance de Creatinina, que nada mais é do que a taxa de filtração de sangue pelos rins.
O valor normal do Clearance varia de 90-130 mL/minuto, isto é, a cada minuto que passa, 90-130 mL de sangue são filtrados pelos rins. Qualquer valor abaixo desta faixa, considera-se que o paciente é portador de insuficiência renal.
Existem outras maneiras para se estimar o clearance através de cálculos utilizando o valor da creatinina no sangue, idade, sexo e raça do paciente. Os valores de Clearance obtidos através dessas fórmulas são aproximados e servem apenas para se ter uma estimativa da filtração renal.
Uréia
A uréia é uma substância produzida pelo fígado a partir da metabolização de proteínas da nossa dieta.
A uréia também é eliminada pelos rins, portanto, uma elevação nos seus níveis pode significar que os rins não estão funcionando adequadamente.
Urina tipo 1
A Urina tipo 1 é um exame de fácil coleta e fornece informações valiosas sobre a saúde dos rins e do corpo também. Idealmente deve ser coletada durante a primeira urina da manhã, desprezando-se o primeiro jato, mas pode também ser coletada em outros horários.
Seguem abaixo alguns parâmetros avaliados no exame de urina tipo 1:
- Glicose: uma urina normal não deve conter glicose. A presença de glicose na urina ocorre com frequência nos pacientes diabéticos, pois quando a glicose está em níveis altos no sangue, ela acaba sendo filtrada e eliminada pelos rins. Se o paciente não tiver diabetes, pode ser um sinal de doença nos túbulos renais.
- Proteína: normalmente há uma quantidade muito pequena de proteínas na urina, praticamente indetectável. Algumas doenças renais causam perda de proteínas na urina ou proteinúria (nome dado a presença de proteínas na urina), que deve ser sempre investigada por um nefrologista.
- Sangue ou Hemoglobina: uma urina normal não deve conter sangue nem hemoglobina (molécula que faz parte dos glóbulos vermelhos). A presença de qualquer um deles deve ser investigada. Importante: mulheres não devem coletar urina tipo 1 quando estiverem menstruadas, pois poderá acusar presença de sangue na urina e este ser na realidade de origem vaginal.
- Hemácias ou Eritrócitos: são as células do sangue, também chamadas de glóbulos vermelhos. Esta análise é feita observando a urina no microscópio, uma urina normal contém apenas uma pequena quantidade de hemácias. Quando houver aumento na quantidade, dizemos que o paciente está com hematúria, condição que deve ser investigada pois pode ser um sinal de muitas doenças renais.
- Leucócitos: são as células de defesa do nosso organismo, também conhecidas como glóbulos brancos. Normalmente há apenas uma pequena quantidade de leucócitos na urina. Toda vez que os leucócitos estiverem aumentados, significa que está ocorrendo alguma inflamação no rim/via urinária, como uma infecção ou uma nefrite.
- Cristais: o achado de alguns cristais de ácido úrico ou de oxalato de cálcio na urina é muito comum. Na maioria das vezes, esses cristais não têm importância clínica nenhuma, pois refletem apenas o excesso dessas substâncias na urina, decorrente da ingestão de alguns alimentos (por exemplo: carnes no caso dos cristais de ácido úrico ou chocolate para os de oxalato de cálcio). Por outro lado, existem alguns tipos de cristais que, quando presentes, podem ser um sinal de uma doença renal, como os cristais de cistina e de estruvita.
Você percebeu como um exame de urina tipo 1 pode ser rico em informações? Aconselhamos aqueles pacientes que apresentam alterações em seu exame de urina a procurarem um nefrologista para uma investigação.
Urocultura
A Urocultura ou cultura de urina é o exame usado para detecção de bactérias na urina. Uma urina normal não contém bactérias, portanto, quando num exame de urocultura cresce alguma bactéria, há uma alta probabilidade do paciente estar com infecção urinária.
No entanto, alguns pacientes podem ter bactérias na urocultura e não estarem com infecção. Isso ocorre frequentemente em 2 situações:
Contaminação da urina por bactérias da região genital: ocorre quando a higiene é inadequada antes da coleta do exame, o que acaba contaminando a amostra com bactérias da região genital e elas aparecem no resultado da urocultura. Para isso não acontecer, orientamos uma boa limpeza da região antes da coleta e sempre desprezar o primeiro jato de urina.
Colonização da via urinária: ocorre quando bactérias colonizam o canal urinário sem causarem inflamação. Nessas situações haverá bactérias na urocultura, mas o paciente não apresentará sinais de infecção como ardência ao urinar ou aumento na frequência de micções.
Resumindo, a presença de bactérias na urocultura nem sempre significa uma infecção urinária. Cada caso deve ser analisado individualmente pelo médico, para ver se há ou não indicação de usar antibiótico.
O resultado de uma urocultura demora em média 48-72 horas para ficar pronto, pois depende do crescimento da bactéria no meio de cultura.
É importante lembrar que deve-se coletar a urocultura sempre antes de iniciar tratamento com antibiótico, para não falsear o resultado do exame.
No resultado de uma urocultura geralmente constam o nome da bactéria, o número de colônias de bactérias que cresceram no meio de cultura e o antibiograma. Através do antibiograma pode-se avaliar a sensibilidade da bactéria aos antibióticos e escolher aquele mais adequado para o tratamento.
Proteinúria de 24 horas
É o exame que quantifica a perda de proteínas na urina em um período de 24 horas. Em situações normais perdemos até 150 mg de proteínas em 24 horas, quando o resultado vem acima deste valor, dizemos que o paciente apresenta proteinúria.
Uma pessoa com proteinúria pode notar sua urina mais espumosa, como se houvesse detergente na água do vaso sanitário. Isso ocorre geralmente quando a quantidade de proteína na urina já está em níveis mais altos.
A proteinúria ocorre quando há lesão nos glomérulos renais, que são as unidades microscópicas de filtração de sangue dentro dos rins (Leia mais: O que é uma Glomerulonefrite?).
Existem várias doenças que causam lesão nos glomérulos, confira aqui as de maior relevância clínica:
- Diabetes
- Glomerulonefrites
- Lúpus
- Hipertensão Arterial
- Pré Eclâmpsia: hipertensão na gestação com proteinúria
- Obesidade
Em vigência de febre ou após exercícios físicos intensos, a pessoa pode apresentar proteinúria discreta e não estar com nenhuma doença renal. Por isso, evitamos coletar proteinúria nessas situações.
Para que o resultado da proteinúria seja confiável, sua coleta deve seguir rigorosamente algumas orientações:
- Retire o galão de coleta no laboratório
- Ao acordar, despreze a urina da 1a micção do dia e marque a hora em que foi feito, por exemplo às 7 horas
- A partir deste momento, guarde TODAS as urinas que fizer, durante o dia e à noite também, colocando-as no mesmo frasco de coleta
- O frasco deve permanecer bem fechado e armazenado na geladeira
- A coleta termina somente no dia seguinte, coletando-se a urina da micção na mesma hora que se desprezou a 1a micção do dia anterior. No nosso exemplo, às 7 horas da manhã.
- Toda a urina coletada nas 24 horas deverá ser encaminhada ao Laboratório, no prazo máximo de 2 horas após o término da coleta
- Durante as 24 horas de coleta a ingestão de líquidos deverá ser a habitual
- Caso haja alguma perda de urina durante o período de coleta, a proteinúria perde o valor e o paciente deverá iniciar uma nova coleta em outro dia
- Aconselha-se a fazer este exame aos domingos, pois é um dia que a pessoa pode permanecer em casa para realizar a coleta adequadamente, e os frascos podem ser encaminhados ao laboratório na segunda de manhã
Resumindo, a proteinúria é um sinal de doença renal e deverá ser sempre investigada por um nefrologista. O tratamento da proteinúria irá depender da sua causa.
Biópsia Renal
A biópsia renal é um exame frequentemente solicitado pelos nefrologistas, pois fornece informações importantes para o diagnóstico e tratamento de determinadas doenças renais.
O paciente permanece acordado durante todo o procedimento. Com o auxílio do Ultrassom, localiza-se o rim e é feita uma anestesia local. Após anestesiado, uma agulha especial é introduzida nas costas do paciente até chegar no rim. São retirados de 2 a 3 fragmentos pequenos e enviados para análise no microscópio.
A biópsia renal é considerada um procedimento simples, rápido e seguro, se realizada por pessoas experientes.
De cada 100 pessoas que fazem uma biópsia, aproximadamente 15 apresentarão sangramento visível na urina, sendo auto limitado na maioria das vezes, ou seja, cessa espontaneamente sem necessidade de cirurgia.
Para minimizar o risco de sangramento, é importante seguir algumas orientações:
- Suspender antes do exame medicamentos que alteram a coagulação do sangue como AAS, Clopidogrel, Varfarina, entre outros
- Manter a pressão arterial bem controlada no dia do exame e após o procedimento
- Realizar exames antes da biópsia para verificar como está a coagulação do sangue
- Se possível, realizar a biópsia guiada por um Ultrassom
- Respeitar o repouso após o procedimento
Mesmo seguindo rigorosamente todas essas orientações, ainda há um risco pequeno de sangramento, risco que não pode ser anulado por se tratar de um procedimento invasivo com agulha.
Ultrassom de Rins e Vias Urinárias
O ultrassom de rins e vias urinárias é um exame extremamente valioso na avaliação renal. Nele é possível medir o tamanho dos rins, avaliar se existem cálculos, cistos ou dilatações do canal urinário, entre outros.
O tamanho de um rim adulto normalmente varia de 9 a 12 cm no seu maior eixo. Quando suas dimensões estão maiores que 12 cm ou menores que 9 cm, é necessária uma investigação em busca de doenças renais.
O diabetes e rins policísticos são 2 exemplos de doenças que aumentam o tamanho renal. Já a doença renal crônica em estágio avançado (Doença Renal Crônica – Saiba mais sobre essa silenciosa doença) causa uma atrofia dos rins, portanto, no Ultrassom veremos rins de tamanhos reduzidos.
Cálculos renais podem ser visualizados através do Ultrassom, porém pedras que estejam na via urinária (ureter) podem não ser vistas neste tipo de exame, sendo necessária a realização de uma tomografia.
O Ultrassom renal é o exame de escolha para acompanhamento de pacientes com cálculos, pois fornece informações sobre o tamanho da pedra e sua localização dentro dos rins.
Os cistos renais também podem ser visualizados através do Ultrassom. Este exame fornece informações sobre os cistos permitindo classificá-los em cistos simples (benignos) e cistos complexos (podem ser malignos).
Se o exame de Ultrassom mostrou um cisto complexo, o paciente deverá ser submetido a uma tomografia renal para melhor avaliação das características deste cisto.
O Ultrassom também é um bom exame para se avaliar dilatações do canal urinário causadas por obstruções. Há vários fatores que podem obstruir as vias urinárias, sendo os cálculos os mais comuns.
Na maioria das vezes não se consegue visualizar o cálculo no ureter através do Ultrassom, mas se o ureter estiver dilatado, isso pode ser um sinal indireto de obstrução.
A bexiga também é avaliada no Ultrassom de rins e vias urinárias. Uma bexiga de paredes espessadas pode significar uma obstrução na uretra, canal que conduz a urina para fora da bexiga. Obstruções na uretra em homens, na maioria das vezes, são decorrentes de doenças na próstata.
Aconselhamos aqueles pacientes que apresentam alterações no exame de Ultrassom Renal a procurarem um nefrologista para avaliação.