Dr. Marcio Bernstein
Especialista em Nefrologia Veterinária
reconhecido pela CFMV1 93026-3652
A medicina hiperbárica é uma modalidade terapêutica avançada que consiste na administração de oxigênio a 100% dentro de uma câmara pressurizada. Esse método aumenta significativamente a quantidade de oxigênio dissolvido no plasma, ultrapassando as limitações do transporte convencional via hemoglobina.
Como resultado, o oxigênio consegue atingir regiões do corpo que estão inflamadas, isquêmicas ou comprometidas por infecção, mesmo quando há circulação reduzida.
Em cães e gatos, a oxigenoterapia hiperbárica (OHB) tem se mostrado extremamente útil como tratamento complementar em diversas enfermidades crônicas e agudas.
Casos como feridas que não cicatrizam, queimaduras, infecções profundas, lesões por esmagamento, doenças renais e pós-operatórios complicados são apenas alguns exemplos clínicos que se beneficiam da OHB. .
Trata-se de um recurso terapêutico seguro, indolor e altamente eficaz, especialmente quando empregado por profissionais capacitados e em centros com infraestrutura adequada.
A OHB baseia-se em princípios da física e fisiologia que permitem o aumento da quantidade de oxigênio dissolvido diretamente no plasma. Quando um paciente é submetido a um ambiente com oxigênio puro sob pressão elevada (entre 1,5 a 3 ATA), a pressão parcial do oxigênio no sangue se eleva consideravelmente.
Essa elevação permite que o oxigênio atinja regiões do corpo com baixa perfusão ou dano vascular. Com mais oxigênio disponível, há melhora da respiração celular aeróbica, maior produção de ATP e ativação de processos metabólicos essenciais para a regeneração tecidual.
Além disso, a OHB reduz o edema ao promover vasoconstrição fisiológica sem comprometer a oxigenação e favorece a atividade antioxidante, modulando o estresse oxidativo e a inflamação sistêmica.
– Aumento da oxigenação em tecidos isquêmicos.
– Estímulo à angiogênese (formação de novos vasos).
– Redução do edema inflamatório.
– Ação bactericida contra microrganismos anaeróbios.
– Potencialização do efeito de antibióticos.
– Modulação da inflamação (inibição de TNF-alfa, IL-1, IL-6).
– Estímulo à regeneração tecidual (colágeno, fibroblastos).
– Ativação de enzimas antioxidantes e melhora da função mitocondrial.
As câmaras hiperbáricas veterinárias são construídas com materiais altamente resistentes à pressão e projetadas para garantir conforto e segurança ao paciente durante o tratamento. Elas podem ser classificadas como rígidas — feitas em aço ou acrílico pressurizado — ou portáteis, geralmente infláveis, com menor controle técnico.
As câmaras rígidas são amplamente preferidas em centros especializados por permitirem monitoramento preciso da pressão, oxigenação, ventilação e segurança mecânica.
Possuem válvulas automáticas de alívio de pressão, portas reforçadas, sistema de vedação hermética, além de janelas transparentes para observação constante do paciente.
Internamente, podem conter colchonetes, sensores de temperatura e oxímetros, bem como câmeras de vigilância e intercomunicadores, permitindo a comunicação com a equipe externa. Animais que demonstram agitação podem ser sedados levemente para seu conforto e segurança.
A compressão e a descompressão ocorrem de forma gradativa e controlada, reduzindo o risco de barotrauma auditivo ou pulmonar. A higienização da câmara entre sessões deve seguir protocolos rigorosos de biossegurança. Equipes operacionais devem ser treinadas não apenas na rotina técnica, mas também na condução de emergências, garantindo a eficácia e a segurança do tratamento hiperbárico.
– Pressão terapêutica: 1,5 a 2,5 ATA
– Duração por sessão: 60 a 90 minutos
– Frequência: diária ou em dias alternados
– Total de sessões: 5 a 30, conforme patologia e resposta clínica
– Sedação: leve em pacientes agitados ou felinos
Antes da sessão: avaliação clínica, exames laboratoriais, controle de dor, identificação de contraindicações.
Durante a sessão: monitoramento contínuo de sinais vitais e conforto do paciente.
Após a sessão: reavaliação, observação breve e orientações ao tutor.
A oxigenoterapia hiperbárica (OHB) possui ampla aplicabilidade na medicina veterinária, sendo especialmente indicada em situações clínicas marcadas por hipóxia tecidual, processos inflamatórios intensos e infecções profundas.
Seu uso é justificado em doenças agudas e crônicas, como feridas contaminadas, traumas extensos, complicações pós-operatórias, além de patologias inflamatórias sistêmicas e locais. Ela também tem papel fundamental em doenças degenerativas e em distúrbios circulatórios periféricos, frequentemente negligenciados na rotina clínica.
O principal mecanismo de ação da OHB é o aumento da pressão parcial de oxigênio nos tecidos, o que melhora a oxigenação celular, promove regeneração, inibe necrose e estimula o metabolismo aeróbico mesmo em áreas com perfusão comprometida. Isso é essencial para acelerar a formação de tecido de granulação e restaurar a integridade estrutural de lesões complexas.
Além disso, a terapia reduz o edema, modula a produção de citocinas inflamatórias, favorece a formação de novos vasos (angiogênese) e atua sinergicamente com antibióticos em infecções de difícil controle, como as causadas por bactérias anaeróbicas ou multirresistentes.
A OHB também potencializa a ação fagocitária dos leucócitos, reduz o estresse oxidativo e melhora a integridade dos tecidos, encurtando o tempo de recuperação clínica. Estudos mostram que a terapia acelera o fechamento de feridas em até 40% dos casos em que foi associada ao tratamento convencional.
Outro benefício notável é a sua atuação como recurso protetor em órgãos vulneráveis, como o rim e o cérebro, onde o suprimento de oxigênio é decisivo para evitar falência funcional durante quadros de sepse ou síndrome inflamatória sistêmica (SIRS).
Seu efeito benéfico é particularmente evidente em pacientes com lesões refratárias ou com doenças crônicas que não respondem adequadamente à terapia convencional.
Também se destaca em pacientes oncológicos em cuidados paliativos, melhorando conforto e qualidade de vida.
A OHB pode ser integrada de forma estratégica a planos terapêuticos intensivos ou ambulatoriais, oferecendo apoio fisiológico essencial à regeneração e ao reequilíbrio orgânico do paciente.
Com adequada seleção de casos e aplicação em centros especializados, a terapia demonstra ser uma aliada indispensável na medicina integrativa e na recuperação de pacientes em estado crítico.
Quando bem indicada, a OHB oferece segurança, eficácia e um impacto positivo direto no prognóstico, contribuindo para o avanço das terapias complementares dentro da prática clínica veterinária moderna.
Contraindicações absolutas: pneumotórax não tratado, uso recente de doxorrubicina, infecção viral com febre alta.
Contraindicações relativas: epilepsia não controlada, cirurgia torácica recente, DPOC grave, estados de descompensação clínica.
Cuidados essenciais: avaliação clínica, controle de pressão, tempo e descompressão gradual, uso seguro de sedação.
– Acelera cicatrização de feridas e tecidos profundos.
– Reduz o edema inflamatório.
– Estimula angiogênese e proliferação celular.
– Potencializa ação de antibióticos.
– Ação antimicrobiana direta contra anaeróbios.
– Reduz tempo de internação.
– Melhora prognóstico e qualidade de vida do paciente.
Estudos das universidades de Auburn e Colorado demonstram sucesso da OHB em IRA, osteomietilte, feridas crônicas e infecções graves. Revisões recentes mostram melhora clínica em mais de 85% dos casos tratados, com segurança e redução do tempo de internação.
IRA: melhora perfusão renal, reduz necrose tubular e inflamação.
IRC: reduz microinflamação, estresse oxidativo e melhora a qualidade de vida.
Cistite hemorrágica, pielonefrite, cirurgias urológicas: favorece regeneração, cicatrização e reduz complicações.